Aqui onde tudo é ruína, fico pensando... Construção em vias de abandono, em par com seu contrário, em consonância com seu revés. Não dizemos, com isso, que construímos ruínas. Não é isso. Mas a aceitação de uma tal desordem e um tal malogro, fincado e preso nessas tentativas esquisitas de inventar uma forma, várias formas, é inevitável, porque nos conformamos, de certo modo, com a deformação. A deformação despretensiosa do sentido, da invenção e do gênero - que não há.
Vária coisas me ocorrem, várias idéias simultâneas e concorrentes, mas quase nada me fica, nada quer indelevelmente se derramar nessa tela tão rabiscada; restam-nos os pingos de conceitos, imagens e construções arruinadas desde sua origem. São desenhos dispersos, mas unidos pela mesma água inicial, coisa que infiltra e faz a tal aproximação, que percebemos um tanto surpreendidas, assustadas. Resta-me beber vocês, beber esta tela, beber esta água incompreensível que abastece nossos dedos. E de novo os dedos, nossas repetições.
Falíveis, sempre; mas o reconhecimento disso só reforça essa nossa teimosa infância: pouca mácula, nenhuma legitimação... rsrsrsrs. Essa também é a nossa felicidade. Mais um erro postado, invenção que não funciona. Que alegre fracasso.
Nessa casa, equivocadamente confundida com caos.
“Alguém trouxera cavalos, descendo os caminhos da montanha.
Alguém viera do mar.
Alguém chegara do estrangeiro, coberto de pó.
Alguém lera livros, poemas, profecias, mandamentos,
inspirações.
- Estas casas serão destruídas.
Como um girassol, elaborado para a bebedeira, insistente
no seu casamento solar, assim
se esgotará cada casa, esbulhada de um fogo,
vergando a demorada cabeça para os rios misteriosos
da terra,
onde os próprios arquitectos se desfazem com as suas mãos
múltiplas, suas caras ardendo nas velozes iluminações.
(...)
Casas são rios diuturnos, nocturnos, rios
celestes que se queimam lentamente
até uma baía fria, fria – que talvez não exista,
como uma secreta eternidade.
Falemos de casas como quem fala da sua alma,
Entre um incêndio,
Junto ao modelo das searas,
Na aprendizagem da paciência de vê-las erguer
E morrer com um pouco, um pouco
De beleza.”
Herberto Helder

23 Comments:
poxa mara.
você tá falando tudo.
e uma coisa que adoro é perceber o quanto somos permeáveis, as palavras idéias e próprios "sentires" vão aparecendo em cada texto, [uníssono polifônico - rá.] como se saíssem do mesmo lugar, do mesmo ser. e fica claro que nosso contato não se dá sem ... contágio.
a ruína virou mosaico, e era bem isso que estava pensando quando a lila deu a idéia do blog..
ah, e trazer o seu helder por nossas bandas foi muito bom.
morrer com um pouco de beleza resume um ideal de vida.
momento snif snif:
amo vocês..
ah, outra "função" daqui é a de compartilhar beleza.
que nem em fale com ela [nha. foi o ÚNICO almodóvar que assisti], o mocinho chora numa parte do filme porque tem saudade dos momentos em que ele dividia as coisas bonitas que ele via com sua mulher.. esse ato é tão ....... não sei uma palavra.
nha.. não sei se vcs me entendem..
ahã. calei agora, eu sei que i talk way too much..
vou ali dançar um tico.
batidalugarcomumarrozcomfeijãoquase jargão..mas não deu para evitar..."Tudo que é sólido se desmancha no ar..."
E a contradição que carregamos como maldição/bênção, talvez o único casamento eterno...
É isso ai...a condição humana..a ordem entrópica.
Tomar um café.
sem palavras...Não há mais nada a se dizer...o texto ultrapassa a barreira do compreensível...
Muitooo Bom!
Parabéns!
comentário a parte:
acho que a gente tá precisando de umas doses concentradas de violência por aqui.
Precisa não Sue..ela^talvez já esteja aqui, no reverso do texto.
Q nem aquela historinha da energia cinética e energia potêncial...
mas energia potencial, já que não passa de potencial, não tem valor prático. não quebra objetos, não serve pra aliviar nada.
intenção e ato não são a mesma coisa, e ,muito menos, surtem o mesmo efeito.
mas, enfim, só sei que vou dançar hoje.
e isso faz com que intenção e ato tornem-se plenamente dispensáveis.
[amém]
ah, só um ps quanto ao primeiro cmt anônimo desta janela:
o google me disse que era marx o batidalugarcomumarrozcomfeijãoquasejargão.. que legal. isso faz do nosso blog um lugar.. engajado? hihi.
e isso de condição humana me lembra... um xerox encalhado no meio de minhas coisas. ação coletiva?
uhauahuahuahauhau
whatever.
Fale mais sobre "doses de violência", Sue. Je ne comprends pas...
[acho q ando discordando muito de vc ultimamente, mas...
pra mim, potencial vale sim, enquanto latência. Mas é melhor mesmo botar tudo logo em movimento. Isso é bom.
Quanto a ser contraditório, talvez não seja mesmo, e talvez ainda pq o fracasso já seja previsto antes da produção q fracassa... rsrsrsrs
Imagine a equação: quando Ep = max então Ec= zero. mas nesse exato momento, a Ep se esgota, trasnformando-se em movimento. Se o movimento for uma parábola, isso quer dizer q estaremos em queda.
Ai é a importância. A ep não é mov, não é matérial, mas está contida dentro de qq sistema muv. Ou para rezumir, o prazer (ou alegria) que uma pessoa a qual amo pode me proporcionar e tão intenso quanto a frustração que ela pode vir causar. Se ela ainda não me frustrou, saber q isso, e saber a intensidade da frustração me ajuda ase não compreennder ou concordar, pelo menos "entender" a dor quando a sentir.
Aff morte ao prolixismo. Ainda fico com o Ep=máximo = Ec=zero..mais simples (e tb equivale dizer q todo conceito carrega seu antípoda dentro)
Eu tb vou dançar..em casa...(mas queria tanto uma balda hj..e quinta feira tem musiquinahs sensacionais por aqui...pena)
mara, a violência de que falava, desculpe-me, foi expressão de ímpetos incontidos, bem à parte mesmo dos 'ecos' que surtiram seu texto. "un cri", à la marguerite duras. enfim.
quanto às considerações sobre o potencial e cinético, devo confessar que as conclusões acabam sendo "situacionais". estava meio mal-humorada quando me desdenhei da intenção frente ao ato, do latente frente ao consumado.
no fim [e vcs, meninas, bem sabem disso] também acho que a energia potencial máxima seja o melhor 'estado'. principalmente pros que se dão bem com o mal que se chama , nha, esperança.
____________
viva musiquinhas sensacionais! viva dançar, mesmo que em casa, é super.. terapêutico, ajuda a ... sublimar certas coisas.
frustrações então...
"now that i'm so sad and not quite right, i could dance all night"
clap clap clap
Vcs lembram q o Cícero queria ensinar a gente a lidar com frustrações? kkkkk
acho q a gente aprendeu... mas nem por isso somos frustrados. ou somos? bom... enfim... ah!
poxa o cícero..
hihi
ow, todo mundo é frustrado.
invariavelmente.
e isso me lembra uma música.....
Frustrações:
Um filme Japinha "Kids Return", só para encurtar tudo, é a história de um par de amigos. Um chega quase a Yakuza fodão e o outro quase campeão de qq categorai de boxe. No reencontro, assim como 10 anos antes, dão voltas de bicicleta no pátio do (ex) colégio. Um deles:
- Será que já estamos acabdos?
outro
- Estamos só começando...
Acho q agradeço ter me frustrado um bocado na vida....
putz. que lindo..
clap clap clap
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