25 julho 2006

Depois do pôr-do-sol

Guardo o instrumento como quem guarda uma alegria em desuso, jogando um pequeno cascalho no rio corrente, esperando que ele afunde e que eu fique imune, salvo daquele afogamento. Na dissolução lenta dos meus elementos de ligação, a água manchada, o beijo frio, a poeira que levanta. Se a sujeira é irreversível, tenho que aceitar que a culpa não foi minha, que a graça de perder não tem graça nenhuma, é o que chamamos por aí de ante-graça: DESGRAÇA. Dedico ao meu amigo Glauber o uso, sempre indevido, mas pertinente, da palavra. E agradeço à Dalila, pelas músicas que ambientaram a ruína desse texto. Dedico à Suellen que sabe viver como ninguém pelas distâncias e pelos choques metafísicos, ela, que sublima saudades em presenças. Dedico à Fatinha, pela graça, e pela caixa de Pandora que um dia virá, embora o medo de abri-la... Dedico ainda a mim mesma, que, ao contrário da Suellen, sou material, física e “amo com o estômago”, conforme me disse um primo-amigo hoje. A mim que quero sempre ter as mãos beijadas em público, de olhos fechados, olhos atentos; esse texto que começa e termina sem substância nenhuma, entranhado de uma mágoa extra-textual que mantém essa escrita capenga, suspendendo toda forma de alegria-rápida, contra um fast-food possível. É capenga e insustentável, doída, cravada em nada, como se ainda descesse, caindo em direção ao fundo do rio.

24 julho 2006

Ligações fracas

A raiva de um orvalho que não tem culpas, abrindo o que tem em si nas geladas folhas penduradas nos galhos impermeáveis. A inundação vem de baixo, o castigo é que é de cima. O que se revela nos esmaltes mal tirados das unhas, cujo centro perde a cor, é que colorir as mãos é missão arriscada pro corpo desacostumado. Melhor os anéis, as ligações fortes, as pontes de hidrogênio, que nem sei se são pontes mais. O que quero dizer na minha vaguidão (ou vaguez?) é que interromper uma linha reta, ou com a borracha, ou com um atrevido traço concorrente, interrompe mais do que uma linha reta. Impede uma chegada, qualquer que fosse. A morte antecipada, bem-vinda como um orvalho na minha boca seca – como o galho impermeável -, ou mal-vinda como um deixar de gostar repentino que desvia a linha e os olhos, murcha a folha: são alguns rabiscos, e esquecimento. Sóis, luas, gatos, casas fáceis. Textos curtos: rascunhos como fim.

05 julho 2006

manifesto do simples, vai uma farofinha aí?

procurei, procurei e procurei uma música encorpada, densa e poética pra dar um pouco a idéia de vento no rosto e outras coisas leves e agradáveis.


aí me lembrei de que a alegria não precisa se disfarçar, e fiquei com preguiça das metáforas. esses trajes de gala que às vezes só confundem e escondem o que deveria se mostrar. estou com preguiça do que se complica.


a música, então, não é nada densa, não tem nenhuma frase de efeito arrebatador, eu diria até que é bem bobinha. conclusões tardias [Now that you noticed It all went wrong ] e verdadezinhas tristes mas saltitantes [Cos I'm forever lost Oh yeah I'm forever lost] .


bom, nada como uma farofinha pra falar das alegrias possíveis: dançar, cantar, bater palminhas [haha! nem falei clap clap desta vez!], assoviar e estalar os dedos. porque é tudo tão simples. e tão bonito.


hoje não caí na pegadinha esconde-esconde das coisas sublimes, que estão sempre bem ali. aqui. bem aqui. haha. que post mais auto-ajuda.



enjoy forever lost pessoas. dos simpáticos magic numbers.