14 agosto 2006

pequena carta, para o dia 20 de agosto

Faz bastante tempo que rascunho palavras a você, amiga. Desculpa, hoje não vou usar nosso querido tu, acho que esta confusão mental não me permitiria conjugá-lo da maneira certa. Ok, você sabe que, mesmo em condições normais, eu não sei conjugá-lo direito… mas enfim, garotinha, quero muito que cada letra aqui escrita seja lida em tom solene e grandioso, mas com simplicidade, e sobretudo sinceridade.

Isto é uma homenagem. Tentativa meio incerta de dizer obrigada, parabéns, desculpa.. busca de tradução para os sobressaltos, admiração, alegria , gratidão, orgulho.. emoções que você desperta com violência, intensidade. Deslumbramento em estado puro, que vem em pequenos surtos, penso em suas cartas :

Te saber amiga é alegria calma e certa. E despreocupar-se, é ter alguém pra responder suas mensagens de celular em plena madrugada. (E a resposta ainda mais inebriante que tudo o que você bebera até o momento =) Sua presença é ópio, amiga. Sua presença é cumplicidade, sua presença é lembrança do amor à beleza, acima de tudo. Sua presença é assim, justificativa para toda pequena loucura, pedras preciosas, histórias a serem contadas em fragmentos, com a bênção da poesia, o perfume tímido de cada pedaço de nossas vidas. Amém.

Agora penso em tudo de mais belo que há nesta vida, fecho os olhos com força, pra que nada escape, faço um embrulho bem grande, com fitas brilhantes e papel fosco. Afasto-me, ajeito os laços do presente e, depois de olhá-lo com satisfação, ofereço-o a você. Estende as mãos mara, recebe aí este presente pelo seu dia. Você vê ? é simplesmente o mistério, o rumo, o alvo do nosso instinto tão ávido de beleza, lirismo. À você o etéreo, essência imperecível da eternidade que não se alcança, matéria prima de todo desejo ... e de todo prazer.

E fiotinha, eu te abraço forte.

11 agosto 2006

Torta articulação

peito estufado de mulher
de dois mamilos.
pequenas pedras suando longas vidas
por dentro das sementes.
nenhum pulso, lotação de flores
e escassez de joelhos.
é sabido sobre as metáforas
e sobre sua ineficácia
perante uma realidade que ultrapasse as alegorias.
sabe-se das metáforas
nos beijos, nos olhos, nos olhos desviantes.
no espaço em branco no intervalo das respirações.
no ar contido entre os lugares das letras
onde se inscreve tudo.
sabe-se das metáforas dos mamilos desatentos
e das pedras-apenas dos joelhos tardios.
se for mesmo aquilo que exige refração
iluminando inesperadamente o azulejo obscuro desta casa
algum detalhe inessencial deste espaço
recriado com peitos, flores e luzes oblíquas.
apagando o resto.

Título e auto crítica

Um poema inconcluso cozinhando em
alguma louca memória
é um poema pronto num corpo
cujas aberturas costumam engolir fragmentos de mundo,
rasgos de vozes, movimentos involuntários
do esfincter de prazer e dor.
Até modelar tudo
em monstruosas configurações
e enfiar um nome que, dizendo, gagueja,
nas funduras das costas das costuras caducas.
Um reverso quase lúcido.