Depois do pôr-do-sol
Guardo o instrumento como quem guarda uma alegria em desuso, jogando um pequeno cascalho no rio corrente, esperando que ele afunde e que eu fique imune, salvo daquele afogamento. Na dissolução lenta dos meus elementos de ligação, a água manchada, o beijo frio, a poeira que levanta. Se a sujeira é irreversível, tenho que aceitar que a culpa não foi minha, que a graça de perder não tem graça nenhuma, é o que chamamos por aí de ante-graça: DESGRAÇA. Dedico ao meu amigo Glauber o uso, sempre indevido, mas pertinente, da palavra. E agradeço à Dalila, pelas músicas que ambientaram a ruína desse texto. Dedico à Suellen que sabe viver como ninguém pelas distâncias e pelos choques metafísicos, ela, que sublima saudades em presenças. Dedico à Fatinha, pela graça, e pela caixa de Pandora que um dia virá, embora o medo de abri-la... Dedico ainda a mim mesma, que, ao contrário da Suellen, sou material, física e “amo com o estômago”, conforme me disse um primo-amigo hoje. A mim que quero sempre ter as mãos beijadas em público, de olhos fechados, olhos atentos; esse texto que começa e termina sem substância nenhuma, entranhado de uma mágoa extra-textual que mantém essa escrita capenga, suspendendo toda forma de alegria-rápida, contra um fast-food possível. É capenga e insustentável, doída, cravada em nada, como se ainda descesse, caindo em direção ao fundo do rio.

3 Comments:
Impossivel não comentar!!!
Guardar o insturmento?
Não acho boa idéia... enfim, Pessoa tem um comentário mais acertado que eu pro fato:
"E falta sempre uma coisa,
um copo, uma brisa, uma frase,
E a vida dói quanto mais se goza
e quanto mais se inventa."
O que vale é gozar e... faltas, perdas fazem parte...
No final, tudo é poesia...e apenas aqueles que têm personalidade e emoções sabe o que significa essa fuga. Fuga que só é permitida com palavras...
Qto à caixa... não tem pq ter medo...lembra do que ficou presa à ela???? Então...Numa visão otimista, é a prova de que se pode abrir...pq sempre resta algo!!! E, no caso da caixa de Pandora, o q restou foi certamente o melhor!!!!
Abraços, mocinha!!! E thanks pelo "dedico"...
Fatinha
Nem, eu li e doeu... muitão....
De um instrumento guardado, a um despedaçar de um suspiro venenoso.
bjins
Se a sujeira é irreversível, tenho que aceitar que a culpa não foi minha, que a graça de perder não tem graça nenhuma, é o que chamamos por aí de ante-graça: DESGRAÇA.
-há que ter uma certa graça em perder.. senão.....
ps- isso de sublimar saudade em presença está me deixando meio desnutrida, quase anêmica.
[e viva as palavras de mara!
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