Ligações fracas
A raiva de um orvalho que não tem culpas, abrindo o que tem em si nas geladas folhas penduradas nos galhos impermeáveis. A inundação vem de baixo, o castigo é que é de cima. O que se revela nos esmaltes mal tirados das unhas, cujo centro perde a cor, é que colorir as mãos é missão arriscada pro corpo desacostumado. Melhor os anéis, as ligações fortes, as pontes de hidrogênio, que nem sei se são pontes mais. O que quero dizer na minha vaguidão (ou vaguez?) é que interromper uma linha reta, ou com a borracha, ou com um atrevido traço concorrente, interrompe mais do que uma linha reta. Impede uma chegada, qualquer que fosse. A morte antecipada, bem-vinda como um orvalho na minha boca seca – como o galho impermeável -, ou mal-vinda como um deixar de gostar repentino que desvia a linha e os olhos, murcha a folha: são alguns rabiscos, e esquecimento. Sóis, luas, gatos, casas fáceis. Textos curtos: rascunhos como fim.

5 Comments:
Como já disse a vc, esse é um dos seus posts que fogem à regra dos demais...
Mesmo assim, acho q entendi a essência!
Me veio à mente isso:
"...Este é você, na chuva.
Nunca pensou que fosse fazer algo assim.
Você nunca se viu como - não sei como descreveria - como uma dessas pessoas que gostam de olhar a lua ou que passam horas contemplando as ondas ou o pôr-do-sol. Deve saber que tipo de pessoas estou falando. Talvez não saiba.
Seja como for, você gosta de ficar assim: lutando contra o frio, sentindo a água penetrar na sua camisa e a sensação do chão ficando fofo debaixo dos seus pés e do cheiro. Do som dá água batendo nas folhas e todas as coisas que estão nos livros que você não leu.
Esse é você.
Quem teria imaginado?
Você."
Fragmento de "Minha vida sem mim"...filme lindo!
comentário blasé pra um post um tanto qto...rs
Abraço
Fatinha
Este comentário foi removido por um administrador do blog.
o problema é que alguns posts tem traços biográficos mais evidentes.. rsrsrs. Aí, o tipo blasé é importado do corpo que escreve... kkkkkkkkkk
Que bom que apareceu, Fatinha!
era a interrupção de umas quantas linhas, planos multiplicados sob o mesmo ponto, na mesma imensidão que reside em alguns vazios curvos. talvez a anti-reta, fluxo interminável de possibilidades, o afã de um próximo passo sempre por vir.
- poderia sentar e chorar, e sorver toda essa neve como a última das refeições. poderíamos nos dizer palavras de amor, e logo no instante seguinte tudo tornaria a ser a mesma coisa, sempre.
talvez fosse, mesmo, a única das retas.
começo a acreditar na inexistência do livre-arbítrio ou no império da fraqueza. ou na preguiça de se mover, ou na comodidade de se apegar a ciclos intermináveis que buscam o inalcançável, uma espécie de álibi [ou passatempo masoquista?], enfim....
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